O Inocêncio e o Fernando
são dois irmãos de etnia cigana que há muito anos chegaram a Alcobaça trazidos
pelos pais que entretanto faleceram.
Instalaram-se em duas
rudimentares barracas que foram construído com restos de madeira que foram
encontrando.
Os dois irmãos sofrem de
doença mental, sendo o Fernando o que menos autonomia tem passando os dias
deitado e de noite vagueia pela cidade.
O Inocêncio tem a sua
autonomia: compra a sua comida e para o irmão; lava-se no rio, corta o cabelo e
a barba, apresenta-se limpo e asseado.
O Inocêncio não quer
ajudas de ninguém, critica o irmão por ser desmazelado, é um rapaz desconfiado
e solitário mantendo as suas rotinas diárias.
Vivem com um pequena
pensão de invalidez com um valor próximo dos 500 euros para os dois. Durante
vários anos era um funcionário dos CTT, chefe da delegação, que todos os meses
levantava a reforma e entregava metade ao Inocêncio ficando com o restante para
seu proveito próprio. Foi denunciado pelos colegas de trabalho, foi-lhe movido
um processo disciplinar e foi transferido para outra delegação de uma das
freguesias do concelho de Alcobaça.
É lamentável que este
ladrão sem escrúpulos nunca tenha sido criminalizado e obrigado a devolver o
que roubou.
A partir de 2015 o
Ministério Público tomou conta do caso e nomeou um tutor/tutora que responde
pelos assuntos dos dois irmãos.
Tem sido um processo longo
e difícil de resolver porque por um lado o Inocêncio não aceita alterações na
sua vida, não quer sair do ambiente onde toda a vida viveu. Por outro as várias
instituições nunca fizeram tudo o que estava ao seu alcance para melhorarem a
situação dos dois irmãos.
Alguns alcobacenses, por
caridade, têm levado esporadicamente comida, dois ou 3 visitam os irmãos nas
barracas, tiram fotos do pouco que há mostrar e afirmam nunca terem tido
problemas com os dois rapazes.
O Fernando e o Inocêncio
são pessoas pacíficas, vivem a sua vida sem incomodarem ninguém.
Recentemente o Inocêncio
queixou-se de dores num ombro, foram solicitados os bombeiros, tentaram levá-lo
ao hospital mas recusou. Deixou de habitar a barraca e fica de noite ao relento
tendo por “cama” uma caixa de cartão. Deixou de se alimentar e de cuidar de si
próprio e do irmão.
De acordo com a Lei,
nenhum cidadão pode atentar contra a vida de alguém ou de si próprio. Perante
esta questão e com esta situação criada as autoridades decidiram agir e em
conjunto conseguiram que os dois irmãos fossem encaminhados para uma consulta
no hospital de Leiria. Apesar de terem vivido mais de 20 anos numa situação
precária e de miséria o Fernando e o Inocêncio são saudáveis fisicamente.
Desde 30 de Junho que o
Inocêncio e o Fernando foram acolhidos numa instituição onde lhes são
proporcionadas condições de vida que nunca tiveram.
É fundamental conseguir
que o Inocêncio e o Fernando sejam acompanhados no sentido de se ambientarem e
adaptarem à sua nova condição e tenham um futuro bem diferente e melhor daquele
que tiveram nos últimos 20 anos.