Além!

Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.

7 de maio de 2010

Sindicalismo

Este é daqueles temas que, pela sua importância, deve ser discutido colectivamente, de forma a que cada um possa ir colhendo os argumentos adequados à consolidação da sua opinião, uma vez que a sua complexidade vai muito para além das convicções de cada um de nós. 

Por tudo isso, o comentário que aqui deixo não é mais do que isso, um conjunto de opiniões de quem tem alguma experiência sindical, mas não domina o universo das relações de trabalho, mais conhecido por – Luta de Classes. 
Vale a pena lembrar o que se passou na década de 80 na chamada “cintura industrial de Lisboa”, quando o governo do PS/Soares desencadeou um ataque feroz aos metalúrgicos, invectivando-os pelos “altíssimos salários” e “privilégios” que tinham, apelidando-os de “aristocracia operária” e voltando a opinião pública contra eles. Aí começou também o desmantelamento da industria pesada nacional –Siderurgia, Lisnave, Cel-Cat, Sorefame, etc -, levando a que milhares de trabalhadores se dispersassem pelo território nacional e deixassem as suas estruturas sindicais. A vítima seguinte foram os trabalhadores bancários, que sofreram na pele a mesma receita, e de seguida começaram as fusões da banca, que levaram à saída de mais uns milhares. Depois foi a TAP, com a mesma história dos “altos salários”, “privilégios”, e outros mimos, culminando com processos de rescisão e até despedimento de centenas de trabalhadores. Todo o sector dos transportes teve tratamento semelhante, seguido do desmantelamento das respectivas empresas – CP, Rodoviárias, Trantejo, etc. Dos casos mais recentes, apelo à vossa memória: Polícia, médicos, professores. 

Reparem nesta conexão: metalúrgicos-bancários-TAP-Transportes. Foram estes os sectores mais aguerridos nas lutas em defesa do sector empresarial do Estado, inclusive nas duas greves gerais. 

Para o grande capital levar a cabo o seu projecto, era necessário desorganizar estas estruturas, e foi isso que fez, socorrendo-se dos seus homens de mão no PS/PSD/CDS para alterar a legislação laboral e mandar para casa toda aquela geração comprometida com os ideais do 25 de Abril. Tudo feito a “régua e esquadro”! 

E é aqui que considero estar o “nó górdio” das dificuldades que o Movimento Sindical – e não só - atravessa. A ausência destes milhares de trabalhadores dos seus locais de trabalho, para além da falha na receita sindical (e não é uma questão de cêntimos, uma vez que tinham os salários mais altos…) impede que haja maior rapidez na tomada de consciência das novas gerações que vão chegando ao posto de trabalho. E quando a ganham, falta alguém com experiência para lhe dar suporte. Acresce ainda toda a barragem antisindical posta em prática pelo patronato, com a conivência e envolvimento dos governos que nos têm calhado em sorte – vidé os sucessivos agravamentos da legislação laboral, o aumento exponencial do trabalho temporário, do trabalho a recibos verdes, e as consequências que isto tem nas relações laborais. 

Simultaneamente, aqueles colectivos de centenas de trabalhadores que discutiam os problemas de um sector inteiro já não existem, e a sua substituição vai ser demorada. 

Até lá, que cada um dê o melhor de si próprio, que passa também por sabermos escutar-nos uns aos outros, de forma a não nos isolarmos demasiado das massas, e ficarmos a falar sozinhos. 

Obs: Há um outro aspecto mais perverso e que julgo ser digno de registo: grande parte dos trabalhadores utiliza o seu voto – autarquias, legislativas – naqueles que o vão usar para restringir os seus direitos, e depois questionam o Movimento Sindical Unitário para corrigir esses atropelos. É uma tarefa ciclópica… 

Saudações cordiais
H.G.

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