“A
«nostalgia» de Tânia…terminara a sua carreira de professora primária e vivia
com as dificuldades de todos os reformados, mas o que mais a preocupava não
eram esses problemas nem as comparações que, nesse domínio, poderia fazer com a
sua antiga vida. Ainda adolescente, vivera em Leninegrado durante o cerco da
cidade: as pessoas caíam na rua, mortes de fome, de frio ou esgotamento, mas os
outros continuavam a lutar»
«Vinham-lhe
as lágrimas aos olhos ao recordar a solidariedade e a fraternidade desses tempos:
As pessoas privavam-se do último naco de pão para dar a alguém que dele
necessitasse mais: a uma criança doente, a um soldado ferido. E, quando lho
davam, sabiam muito bem que alguém da sua família podia estar também, em
qualquer sítio da União Soviética, com fome, ferido ou doente, mas receberia da
mesma maneira iguais dádivas de solidariedade e de efecto de compatriotas
desconhecidos. Uma fraternidade que se estendia também a todos os seres humanos
e a todos os povos que em qualquer canto do mundo nos pedissem ajuda.
Orgulhávamo-nos de ter podido ajudar Cuba, o Vietname, Angola, a Argélia, o
Egipto e todos os que combatiam pela liberdade. E agora tudo isso está perdido.
Já não podemos fazer nada pelos outros povos. Estamos incapazes de ajudar-nos a
nós próprios!»
"do livro O Grande Salto Atrás, de Henri Allg, pág, 82"
Este
relato da Tânia faz com que meus olhos humedeçam ao recordar os tempos idos da
Reforma Agrária, em Portugal, e a fraternidade e solidariedade que muitos de
nós, “sacrificando” o lazer, os fins-de-semana, o bem-estar pessoal, dedicamos
apaixonadamente muitas horas de trabalho concreto, sem recebermos nada mais que
o carinho e estima dos trabalhadores Alentejanos.
Faz-me
lembrar os tempos em que muitos camaradas abriam as suas portas, colocavam mais
um lugar na mesa, disponibilizavam um sofá ou uma cama extra, lá naquele quarto
destinado a um filho vindouro mas que de momento era de grande utilidade para
um descanso merecido.
Foram
tempos de solidariedade e fraternidade entre homens e mulheres que lutavam por
uma nova sociedade livre da exploração e onde todos os seres humanos se
reconhecem como fazendo parte do mesmo ideal. Sem cansaços, sem vacilações
todos davam o seu contributo, voluntário, nas variadas tarefas que se nos
colocavam diariamente.
Pela
manhã o bilhete em cima da mesa da cozinha dizia – amigo: tens o pequeno-almoço
na mesa, quando saíres puxa a porta, abraço! -
Sem comentários:
Enviar um comentário