Além!

Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.

23 de março de 2018

«Operação Rússia»

retirada do google

Os maiores e mais escandalosos cambalachos da História



«Quanto mais vasta e mais acanalhada é  a fraude, mais forte é a necessidade de encobri-la com nobres justificações e com regulamentações feitas por medida para «legalizá-la». Nem umas nem outras faltaram na execução dessa extorsão organizada da fabulosa herança da URSS.
Como se dizia que todo o mal provinha, fundamentalmente, do próprio socialismo e que o único sistema capaz de funcionar, «civilizado», «civilizado», «democrático» e adequado às normas da «modernidade» era o capitalismo, havia que limpar o terreno a este último, isto é: destruir a propriedade socialista juntamente com o Estado Soviético. Isso seria feito procedendo, do modo mais amplo e mais rápido possível, à privatização de todos os bens pertencentes ao Estado e às organizações colectivas. Uma vez  concluída  essa tarefa, o país estaria perante um facto consumado e ficaria definitivamente barrado o caminho a eventuais  tentativas de regresso à «utopia comunista».
Foi a essa obra de demolição que se dedicaram os novos dirigentes ao som dos aplausos do «mundo livre» e com a sua ajuda activa…
Para dezenas de milhões de Russos, o nome de Igor Gaidar, promovido a primeiro ministro de Iéltsin em Junho de 1992, continuará durante muito tempo a simbolizar a famosa «terapia de choque» por ele preconizada e, para maior infelicidade de todos eles, por ele também posta em prática. Com o auxílio de alguns outros «economistas de talento», todos fervorosos partidários da economia liberal – como, por exemplo, Grigóri Iavlínski, candidato à Presidência em Junho de 1996 -, Igor Gaidar foi o grande organizador da privatização em massa iniciada no Outono de 1992 e que envolveu 115 mil empresas.
Todos ganhariam com essa formidável transformação – afirmava ele-, visto que cada um teria a sua parte no bolo, que lhe seria entregue na forma de um  «titulo de privatização», voucher. Passar para a língua russa, esta palavra, de origem Inglesa, sseduzio os ouvidos do povo. As pessoas, sem qualquer experiência no âmbito das finanças, prestaram-se a admitir que o negócio era promissor e digno de confiança, pois fora inventado no ocidente….
…Entre Outubro de 1992 e o início de 1993, 144 milhões de ex-Soviéticos foram comtemplados com esses títulos, no valor nominal de 10 mil rublos cada um. Várias opções se ofereciam, depois, ao que os recebiam: podiam revendê-los, podiam trocá-los por acções emitidas pela empresa em que trabalhavam e podiam, ainda , utilizá-los na compra de acções de outras sociedades. E tinham, também , a possibilidade de aplica-los  em fundos de investimento recentemente criados.
Bem depressa, porém, uma considerável parte desses vouchers se concentrou nas mãos de indivíduos, ou de grupos, que possuíam os meios líquidos bastantes para adquiri-los. Em Maio – Junho de 1994, todos os dias eram trocados até 500 mil desses papéis. Em toda a parte os negociavam: nos mercados públicos, em plena rua e até no metropolitano. A febre, contudo, baixou rapidamente. Havia pessoas pouco inclinadas a aventurar-se em especulações cujos mecanismos elementares ignoravam. Consideravam – e com bons motivos, de resto – muito hipotético o lucro que daí  poderiam retirar e preferiam desfazer-se dos seus vouchers o mais depressa possível, mesmo por quantias irrisórias ( em certos casos, o equivalente a algumas garrafas de vodka), em vez de trocá-los por acções cujo valor lhes parecia igualmente incerto….
…No final da operação, o valor do capital que , em finais de 1995, cada um dos novos accionistas possuía não excedia, em média, 5 dólares, o equivalente a oito percursos de ida e volta no metropolitano de Moscovo…. Muitos deles compreenderam que os títulos que lhes haviam sido entregues e que ainda conservavam eram pura moeda falsa.“ Pag. 36
“Livro O Grande Salto Atrás de Henri Alleg
  A táctica do capitalismo repete-se. Por cá passou-se o mesmo no pós 25 de Abril, na altura em que o PS começou a entregar empresas aos capitalistas. Muito trabalhadores, iludidos, aceitaram e compraram acções das empresas onde trabalhavam e de outras mas que mais tarde verificaram que essas acções nada valiam.
Há até alguns casos, que tive conhecimento, em que os sindicatos, pelo facto de as empresas deverem salários aos trabalhadores, propunham que essa dívidas fossem transformadas em acções. A empresa livrava-se de uma divida aos trabalhadores, os trabalhadores ficavam sem os salários e sem qualquer reembolso proveniente de acções de empresas falidas e nesses trabalhadores era incutida uma mentalidade de posse duma empresa não lhes garantia nada.




22 de março de 2018

A dissolução do PCUS Novembro de 1991


“Os militares adeptos de Iéltsin apresentaram-se no Comité Central de deram-nos dez minutos para evacuar o edifício, proibiram-nos de levar connosco o que quer que fosse – a não ser objectos de puro uso pessoal. Eramos cerca de dois mil. Toda a gente saiu sem dizer uma palavra. Estávamos desmoralizados, terrificados. Não houve um só que protestasse. Quando cheguei a casa e contei à minha mulher o que acontecera, ela ficou embasbacada e ao mesmo tempo, indignada: “ Quê? Estavam lá dois mil comunistas e não resistiram?”. Esta observação deixou-me envergonhado.
«Tinha razão. Sim, por que motivo não tínhamos nós resistido? Esperávamos ordens! Ordens de Gorbatchov, que continuava a ser o Presidente da URSS e secretário-geral do PCUS, que podia ter reagido, que podia ter apelado aos militantes para resistirem à decisão de Iéltsni. Não sei quantos membros do Partido teriam respondido a esse apelo, nem como, pois tudo nos parecia já perdido e estávamos completamente desmoralizados. Mas o facto é que nada fizemos. Esperávamos pela decisão de Gorbacthov quando, na realidade, fora ele próprio, com as suas hesitações, os seus compromissos e, por fim, as suas sucessivas traições, quem preparara a capitulação e se aprestava a assiná-la. Que ingenuidade! Mas que havíamos de fazer? Estávamos habituados a não tomar a iniciativa.» Pág. 81
«Mas, mesmo discordando profundamente da política que estava a ser posta em prática, toda a gente se calou. Não por medo de passar por «inimigo do Partido» e de ficar sujeito a sanções mais ou menos graves – esse receio havia-se atenuado pouco a pouco, especialmente depois do XX Congresso -, mas porque, qualquer que fosse a sua opinião, os militantes tinham conservado o hábito de aceitar sem discussão todas as directivas vindas de cima.»
« Os simples cidadãos – comunistas ou não - , quando se referiam aos que ocupavam os lugares de direcção à frente do Partido e do Estado, haviam ganho o hábito de dizer «eles», como se falassem de uma categoria  de pessoas à parte, situadas a grande distância da população, lá no «alto», nas quais se tinha fraquíssima influência. Para que serviria, então, exprimir desacordo em voz alta? Apenas para passar – o que não convinha – por indisciplinado? Pag. 203
“Livro O Grande Salto Atrás de Henri Alleg




Solidariedade/Fraternidade


“A «nostalgia» de Tânia…terminara a sua carreira de professora primária e vivia com as dificuldades de todos os reformados, mas o que mais a preocupava não eram esses problemas nem as comparações que, nesse domínio, poderia fazer com a sua antiga vida. Ainda adolescente, vivera em Leninegrado durante o cerco da cidade: as pessoas caíam na rua, mortes de fome, de frio ou esgotamento, mas os outros continuavam a lutar»
«Vinham-lhe as lágrimas aos olhos ao recordar a solidariedade e a fraternidade desses tempos: As pessoas privavam-se do último naco de pão para dar a alguém que dele necessitasse mais: a uma criança doente, a um soldado ferido. E, quando lho davam, sabiam muito bem que alguém da sua família podia estar também, em qualquer sítio da União Soviética, com fome, ferido ou doente, mas receberia da mesma maneira iguais dádivas de solidariedade e de efecto de compatriotas desconhecidos. Uma fraternidade que se estendia também a todos os seres humanos e a todos os povos que em qualquer canto do mundo nos pedissem ajuda. Orgulhávamo-nos de ter podido ajudar Cuba, o Vietname, Angola, a Argélia, o Egipto e todos os que combatiam pela liberdade. E agora tudo isso está perdido. Já não podemos fazer nada pelos outros povos. Estamos incapazes de ajudar-nos a nós próprios!»
"do livro O Grande Salto Atrás, de Henri Allg, pág, 82"

Este relato da Tânia faz com que meus olhos humedeçam ao recordar os tempos idos da Reforma Agrária, em Portugal, e a fraternidade e solidariedade que muitos de nós, “sacrificando” o lazer, os fins-de-semana, o bem-estar pessoal, dedicamos apaixonadamente muitas horas de trabalho concreto, sem recebermos nada mais que o carinho e estima dos trabalhadores Alentejanos.
Faz-me lembrar os tempos em que muitos camaradas abriam as suas portas, colocavam mais um lugar na mesa, disponibilizavam um sofá ou uma cama extra, lá naquele quarto destinado a um filho vindouro mas que de momento era de grande utilidade para um descanso merecido.
Foram tempos de solidariedade e fraternidade entre homens e mulheres que lutavam por uma nova sociedade livre da exploração e onde todos os seres humanos se reconhecem como fazendo parte do mesmo ideal. Sem cansaços, sem vacilações todos davam o seu contributo, voluntário, nas variadas tarefas que se nos colocavam diariamente.
Pela manhã o bilhete em cima da mesa da cozinha dizia – amigo: tens o pequeno-almoço na mesa, quando saíres puxa a porta, abraço! -