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Os maiores e mais escandalosos cambalachos da História
«Quanto
mais vasta e mais acanalhada é a fraude,
mais forte é a necessidade de encobri-la com nobres justificações e com
regulamentações feitas por medida para «legalizá-la». Nem umas nem outras
faltaram na execução dessa extorsão organizada da fabulosa herança da URSS.
Como
se dizia que todo o mal provinha, fundamentalmente, do próprio socialismo e que
o único sistema capaz de funcionar, «civilizado», «civilizado», «democrático» e
adequado às normas da «modernidade» era o capitalismo, havia que limpar o
terreno a este último, isto é: destruir a propriedade socialista juntamente com
o Estado Soviético. Isso seria feito procedendo, do modo mais amplo e mais
rápido possível, à privatização de todos os bens pertencentes ao Estado e às
organizações colectivas. Uma vez
concluída essa tarefa, o país estaria
perante um facto consumado e ficaria definitivamente barrado o caminho a
eventuais tentativas de regresso à
«utopia comunista».
Foi
a essa obra de demolição que se dedicaram os novos dirigentes ao som dos
aplausos do «mundo livre» e com a sua ajuda activa…
Para
dezenas de milhões de Russos, o nome de Igor Gaidar, promovido a primeiro
ministro de Iéltsin em Junho de 1992, continuará durante muito tempo a
simbolizar a famosa «terapia de choque» por ele preconizada e, para maior
infelicidade de todos eles, por ele também posta em prática. Com o auxílio de
alguns outros «economistas de talento», todos fervorosos partidários da
economia liberal – como, por exemplo, Grigóri Iavlínski, candidato à
Presidência em Junho de 1996 -, Igor Gaidar foi o grande organizador da
privatização em massa iniciada no Outono de 1992 e que envolveu 115 mil
empresas.
Todos
ganhariam com essa formidável transformação – afirmava ele-, visto que cada um
teria a sua parte no bolo, que lhe seria entregue na forma de um «titulo de privatização», voucher. Passar para a língua russa,
esta palavra, de origem Inglesa, sseduzio os ouvidos do povo. As pessoas, sem
qualquer experiência no âmbito das finanças, prestaram-se a admitir que o
negócio era promissor e digno de confiança, pois fora inventado no ocidente….
…Entre
Outubro de 1992 e o início de 1993, 144 milhões de ex-Soviéticos foram
comtemplados com esses títulos, no valor nominal de 10 mil rublos cada um.
Várias opções se ofereciam, depois, ao que os recebiam: podiam revendê-los, podiam
trocá-los por acções emitidas pela empresa em que trabalhavam e podiam, ainda ,
utilizá-los na compra de acções de outras sociedades. E tinham, também , a
possibilidade de aplica-los em fundos de
investimento recentemente criados.
Bem
depressa, porém, uma considerável parte desses vouchers se concentrou nas mãos de indivíduos, ou de grupos, que
possuíam os meios líquidos bastantes para adquiri-los. Em Maio – Junho de 1994,
todos os dias eram trocados até 500 mil desses papéis. Em toda a parte os negociavam:
nos mercados públicos, em plena rua e até no metropolitano. A febre, contudo,
baixou rapidamente. Havia pessoas pouco inclinadas a aventurar-se em
especulações cujos mecanismos elementares ignoravam. Consideravam – e com bons
motivos, de resto – muito hipotético o lucro que daí poderiam retirar e preferiam desfazer-se dos
seus vouchers o mais depressa
possível, mesmo por quantias irrisórias ( em certos casos, o equivalente a
algumas garrafas de vodka), em vez de
trocá-los por acções cujo valor lhes parecia igualmente incerto….
…No
final da operação, o valor do capital que , em finais de 1995, cada um dos
novos accionistas possuía não excedia, em média, 5 dólares, o equivalente a
oito percursos de ida e volta no metropolitano de Moscovo…. Muitos deles
compreenderam que os títulos que lhes haviam sido entregues e que ainda
conservavam eram pura moeda falsa.“ Pag. 36
“Livro O
Grande Salto Atrás de Henri Alleg”
A táctica do capitalismo repete-se. Por cá
passou-se o mesmo no pós 25 de Abril, na altura em que o PS começou a entregar
empresas aos capitalistas. Muito trabalhadores, iludidos, aceitaram e compraram
acções das empresas onde trabalhavam e de outras mas que mais tarde verificaram
que essas acções nada valiam.
Há
até alguns casos, que tive conhecimento, em que os sindicatos, pelo facto de as
empresas deverem salários aos trabalhadores, propunham que essa dívidas fossem
transformadas em acções. A empresa livrava-se de uma divida aos trabalhadores,
os trabalhadores ficavam sem os salários e sem qualquer reembolso proveniente
de acções de empresas falidas e nesses trabalhadores era incutida uma
mentalidade de posse duma empresa não lhes garantia nada.
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