Além!

Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.

15 de dezembro de 2018

VALE A PENA LUTAR!

Os estivadores com a sua luta consequente e solidária conseguiram uma vitória e um exemplo para todos os precários de quanto vale ser consequente, persistente e solidário.
Contra tudo e contra todos: contra os patrões exploradores; contra o governo que enviou a policia para proteger os fura greves; contra uma grande parte da opinião pública; contra a comunicação social que caluniou e denegriu a luta dos estivadores os trabalhadores, unidos, conseguiram  mostrar que lutar vale a pena.

O governo, a comunicarão social ao serviço das grandes multinacionais, como a Auto-Europa pressionaram e ameaçaram com argumentos terroristas no sentido de desmobilizar os trabalhadores e colarem a opinião pública contra os trabalhador e as suas lutas. 
A Auto-Europa que já tinha anunciado a paragem para os próximos dias, por faltas de peças, ameaçou com a paragem mais cedo argumentando que o fazia devido à greve dos estivadores. A verdade é que  a falta de motores existe não só para Portugal mas também em Espanha para onde estão ser canalizados motores em falta.

Após mais de um mês de paragem, em luta contra a precariedade, os estivadores do Porto de Setúbal aprovaram esta sexta-feira um acordo, que prevê vínculos efectivos para 56 e trabalho regular para os restantes.

O acordo entre o SEAL e os operadores portuários de Setúbal, que põe termo à paralisação daquele porto, prevê a passagem a efectivos de 56 trabalhadores, bem como a criação de uma bolsa para 37 eventuais, que serão integrados numa segunda fase. Até lá, ficam com a garantia de que terão acesso prioritário ao trabalho extraordinário, o lhes garante trabalho regular no porto.

6 de novembro de 2018

OE 2019 Defesa com aumento de 17,5%

No Orçamento de Estado de 2019, a Defesa Nacional tem um aumento de 17,5% face ao ano transacto, num total de 2,338 mil milhões de euros. Por ramos, o Exército, ainda o mais numeroso em efectivos, custa perto de 588 milhões de euros, seguido da Marinha, pouco mais de 519 milhões e da Força Aérea com 411 milhões de euros.
O documento, entregue esta madrugada no Parlamento, refere que as despesas com pessoal representam 51,8% e revela que as missões das Forças Nacionais no Exterior passam a ter uma dotação de 60 milhões de euros, num reforço de mais 7,5 milhões face a 2018.

Na verba destinada à Força Aérea existe uma dotação de 49 milhões de euros para despesas com investimentos com os meios aéreos de combate a incêndios. O que corresponde ao prometido pelo Governo na sequência da vaga dos grandes incêndios florestais do Verão e Outono do ano passado.

- 60 milhões para missões no estrangeiro, 49 milhões de euros para investimento em meios aéreos de combate a incêndios.

4 de novembro de 2018

Carta de Olga Benário Prestes

Carta de Olga Benário Prestes, a seu marido e filha, na véspera de ser assassinada pelos nazis. Recorde-se que foi o fascista Getúlio Vargas, com a anuência do Supremo tribunal Federal, quem a entregou a Hitler.

Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida.

E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te nos meus braços ansiosos.

Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas fica-te melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Tua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem.

Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu já fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica. Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a ideia de que nunca mais poderei estreitar o teu corpinho cálido é para mim como a morte.
Carlos, querido, amado meu: terei de renunciar para sempre a tudo de bom que me deste? Conformar-me-ia, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que os teus olhos mais uma vez me olhassem.
E queria ver o teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado a ambos. Mas o que gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível.
É precisamente por isso que me esforço para me despedir de vocês agora, para não ter de o fazer nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta.
De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo.
Prometo-te agora, ao despedir-me, que até ao último instante não terão de que se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegar.
Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até ao último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.
Olga

2 de novembro de 2018

A Metamorfose de Efigénia

A questão do Homem Novo.
“As Revoluções ciam a atmosfera social que facilita aos que nelas participam desenvolverem as suas melhores potencialidades. Mas esse fenómeno, se assim o posso qualificar, é de curta duração.O espirito revolucionário dos que levam à vitória as Revoluções não é mecanicamente transmissível. O ser humano tem-se modificado muito pouco eticamente desde a Grécia ou a China antigas, berço de grandes civilizações da antiguidade.”pág. 59 A questão do homem novo em Portugal“”Ao alterar-se a relação de forças e o controlo do governo passar alternadamente pelo Partido Socialista e pelo Partido Social Democrata, o “comportamento revolucionário” de milhares de cidadãos que antes exigiam o Socialismo evoluiu rapidamente para uma acomodação à plena restauração do capitalismo. O Homem e mulher velhos reapareceram torrencialmente.”pag 61
“O homem novo somente se imporá de maneira extensiva e duradoura quando o capitalismo for erradicado do nosso planetaMas ao longo da História surgiram sempre homens novos, exemplares, E naturalmente, mulheres. Não as heroínas forjadas pelas classes dominantes, as santas e personagens como Joana d’Arc. Penso em mulheres novas que romperam todos os tabus da submissão feminina e desafiaram o futuro. Penso em revolucionárias como a polaca Rosa Luxemburgo, a russa Alexandra Kollontai, a cubana Célia Sanches, para citar apenas três exemplos.”  Pag 62
Miguel Urbano RodriguesPerez esboçou um sorriso.“Todos nós, creio, nos cruzamos em momentos da vida com mulheres novas. A nossa conversa traz-me à memória uma, um ser maravilhoso, que conheci.”Ela nasceu em Mached, após o final da segunda guerra mundial, no Korassan iraniano, uma cidade que no século XIV ao XVII foi o polo da cultura do Islão asiático. Os pais eram militantes comunistas, militantes do Tudeh, um partido que foi alvo de grandes perseguições quando os ingleses e os americanos derrubaram Mossadegh e colocaram o Xá Rezha Pahlevi no trono. A única filha tinha cinco anos e um nome estranho, Damavenda, alusivo à montanha tutelar do país, cujo cume quase atinge os 6000 metros. Mas chamaram-lhe sempre apenas Vena. A menina somente falava o persa quando os pais iniciaram, como emigrantes, uma longa viagem que, após múltiplas etapas, findou no Chile, onde a família tinha parentes. Vena cresceu em Valparaíso, olhando o Pacífico da colina onde os pais mantinham uma pequena mercearia. Ignoro o que foi a sua adolescência. Quando a conheci ela teria uns 25 anos. Foi após um comício da Unidade Popular no ano 70, durante a campanha que terminou com a vitória de Salvador Allende sobre Jorge Alessandri, o candidato da direita. A sessão, no ginásio de um liceu de Santiago, era dedicada à juventude. Na assistência havia muitos momios – o nome usado então para designar os reacionários – porque o bairro, La Reina, era burguês, o que tornava a atmosfera escaldante. Naquelas semanas a polarização da sociedade chilena impressionava. Ninguém se posicionava como neutral. Vena falou pelo Partido Comunista, em nome de uma organização de professores. Lembro-me de que foi o único orador ouvido em silêncio. No final os jovens momios não a variam.“Porquê”A sua beleza impressionava. Tinha ns olhos enormes, meigos, o cabelo negro, descia-lhe até aos ombros e contrastava com a pele, muito branca.Mas não era a aparência física que fazia nela a diferença. Nem a voz que, pelo timbre, tinha ressonâncias musicais. Pensei que era chilena porque se expressava com o nosso sotaque, aliás num castelhano puro, mas utilizando uma linguagem muito simples. A sua intervenção dividiu-se em duas partes muito diferentes. Quase não se referiu à eleição. Inicialmente falou da vida numa callampa (designação da favela chilena) de Valparaíso e da gente que nela morava. Trouxe o quotidiano do bairro e os seus moradores para a sala, entrou na intimidade das famílias, evocou lutas dos seus antepassados num panorama de repressão quase ininterrupta através de sucessivos governos. A vida nessa callampa – sublinhou – era a imagem do sofrimento secular de milhões de chilenos. Numa brusca mudança de cenário, falou depois de uma visita que fizera às minas de carvão de Rota. Descreveu o seu encontro com os mineiros, a dureza das condições de existência naquela sucursal do inferno, evocou massacres num contexto de repressão brutal, para terminar transmitindo a esperança dos homens e mulheres de Rota, a sua confiança inabalável numa revolução que dignificasse nas minas a condição humana.A Unidade Popular, afirmou a terminar, simboliza a esperança do Chile oprimido. Parece banal o que ela disse. Mas foi pungente, comovedor. O estilo fazia a diferença. Abracei-a no final. Esse abraço foi o prólogo de outros encontros durante a campanha. Ouvia-a falar em comícios diferentes, Vena fascinava os auditórios porque conseguia condensar uma mensagem simultaneamente ideológica e humanista num discurso de assimilação fácil, directo, de frases breves, substantivo. Sem recorrer a citações, combatia, sempre serena, o nacionalismo patrioteiro, levando os trabalhadores e a juventude a descer pela história do Chile e a sentir-se parte dela. Trabalhara no Sul, com os mapuches, e aprendera a língua desses índios, descendentes dos antigos araucanos. Lutara ao lado deles pela defesa das suas terras invadidas por empresas madeireiras, com a cobertura do exército.Na época era professora de História da América Latina numa escola secundária pública. Eu também participava na campanha da UP e o interesse comum pela História e o facto de sermos ambos comunistas contribuíram para que amizade muito especial. Digo especial porque Vena, repito, era uma mulher diferente, excepcional em tudo. Tendo assumido o povo do Chile como seu, via nele a parcela da humanidade com a qual se identificava nas suas aspirações e lutas. Mas essa identificação apresentava-se como inseparável e consequência natural do sentimento internacionalista que conferia significado à sua existência. Não esquecera s raízes. Mantive com ela longas conversas sobre a história dos povos iranianos. Não tivera a oportunidade de voltar ao país onde nascera, mas percorria a caminhada pelo tempo desde os persas Aqueménidas, criadores de uma grande civilização de que se orgulhava. A cultura, o espírito militante, a modéstia, a ausência de secretismo, a sua disponibilidade para dialogar com adversários perturbavam-me. Um dia disse-lhe que ela demasiado perfeita e isso a desumanizava. Abriu os olhos com espanto. Não percebeu.Tentei explicar que via nela alguém que, qualquer que fosse a profissão ou actividade, subiria sempre ao cume da montanha. Estava vocacionada para fazer tudo bem. Era pontual, tinha uma intimidade rara com todo o tipo de máquinas, desde os eletrodomésticos aos camiões pesados, escrevia com estilo próprio, e disseram-me que era uma cozinheira de talento. Não gostou do que ouviu, quando a elogiei pela sua excepcionalidade. “Sou uma mulher igual a outras e não a avis rara que vês em mim” – protestou.Eu sabia que Vena tinha um companheiro. Mas somente o conheci durante o famoso lock- out dos camionistas, promovido pela direita. Era um economista que naquelas semanas em que o golpismo começou a desmascarar-se exercia funções importantes na CUT, a Central de Trabalhadores.Apenas troquei breves palavras com ele em duas ou três ocasiões.Vena esclareceu um dia que ele também era militante do Partido e que mantinham uma relação muito harmoniosa. Amava o companheiro. Gostaria de ter um filho, mas não imaginava quando seria possível. Não conheci alguém como ela tão desinteressada de bens materiais. Morava então num pequeno apartamento alugado perto da estação ferroviária. O bairro era pobre e feio. Não falava da sua vida familiar e a sua doçura habitual transmutava-se em dureza quando algum companheiro lhe dirigia um piropo. Reagia então com rispidez. Era uma jovem muito bela, como já disse. Adivinhava-se no movimento do seu corpo uma sensualidade forte, mas controlada, como se a sua revelação a incomodasse.”“Sou uma comunista biológica – dizia em tom de brincadeira. Bebi o comunismo no leite materno.”“no ano 73, quando a escassez de alimentos se agravou, todos, mesmo os quadros com responsabilidades no governo da Unidade Popular, recorríamos ao mercado negro. Ela não. Creio que chegou a passar fome.“É uma questão de princípios” – respondeu-me um dia ao recusar uma garrafa de óleo que lhe ofereci. Vena quando em reuniões sentia a necessidade de criticar algum camarada evitava sempre usar palavras que pudessem ferir. E nunca a ouvi participar de críticas a companheiros em rodas de amigos. Nas semanas que precederam o golpe, o debate ideológico no heterogéneo leque de forças progressistas que apoiavam o processo revolucionário atingiu uma intensidade que por vezes desembocava em atitudes agressivas, quando vinha à baila o tema da resposta popular a uma intentona militar. O precedente do tanquetazo de Souper, dominado com dificuldade, era inquietante. Vena nunca perdia a serenidade nessas discussões. Uma noite, em convívio realizado num bairro operário de Santiago, enfrentou com firmeza um dirigente do MIR que fazia a apologia dos cordones obreros, afirmando que o povo armado tinha condições para resistir vitoriosamente a um golpe militar. Vena foi convincente. Sem elevar o tom de voz, disse ao jovem mirista que a sementeira de ilusões naqueles dias era um serviço prestado à reacção. O general Prats enunciara uma evidência ao advertir que contra armas pesadas não haveria no Chile resistência popular possível. Atarefa dos revolucionários lúcidos era lutar pela inviabilização do golpe e não sonhar com a vitória no caso de choque com o exército.Na manhã de 11 de Setembro, quando a tragédia chilena principiou com o bombardeamento de La Moneda, eu encontrava-me no sul, na província de Temuco, em issão oficial. Horas depois, quando a Rádio informou que Allende estava morto e uma junta militar tomara o Poder,  camaradas locais levaram-me até Culucatin, uma pequena cidade de região, e instalaram-me em casa de camponeses amigos onde permaneci durante dez dias. O Partido tinha ali muita influência e disseram-me que estava a ser preparada a minha saída para a Argentina juntamente com outros camaradas. No dia 20 – nunca esquecerei a data – soube que uma camarada acabava de chegar com outros companheiros para organizar a travessia da fronteira. Os puertos da Cordilheira estavam ali menos vigiados e não havia neve na época, no início da Primavera austral. Tentei muitas vezes recordar o que senti quando Vena entrou  no quarto onde eu escrevia uma carta, inseguro de que ela seria entregue ao destinatário. Mas não consigo, tamanha foi confusão na cabeça entre sensações e pensamentos. Somente guardo na memória uma imagem daquele momento. Ela vestia umas calças pretas e uma boina também preta cobria-lhe a cabeleira. Permaneceu calada quando me abraçou longamente. Partiríamos de madrugada. À noite, após um jantar de todo o grupo, de que fazia pate um guia familiarizado com os caminhos da Cordilheira, Vena pareceu e falamos durante uma escassa hora. Ela consultava o relógio com frequência.Exibia a serenidade que nela era espontânea e permanente. Mas o que contou, depois de comentarmos a situação criada pelo golpe, não contribuiu para me levantar o moral. O golpe apanhou-a em Valparaíso, onde a repressão desencadeada pela Armada fora medonha. Não foi uma figura de retórica a famosa ameaça do almirante Toribio Merino, da Junta, de fazer de Santiago uma Jacarta se fosse necessário. Vena conseguiu chegar à capital e estabelecer logo o contacto com o Partido, que mergulhara imediatamente na clandestinidade. Do companheiro somente teve notícia três dias depois. Fora fuzilado com outros dirigentes sindicais. Como ela conhecia bem Temuco, incumbiram-na de organizar na região a travessia dos Andes de quadros que não haviam sido capturados na primeira vaga da repressão. Para isso estava ali. Dela, do seu sofrimento, não falou. Em resposta a uma pergunta informou que ficaria no Chile, integrada na Resistência. Não vou descrever o tormento que foi a viagem até à Argentina durante três dias, através de bosques quase impenetráveis e, depois, nas escarpas andinas, por pedregais nevoentos, gélidos. Mais de uma vez escapamos por um triz de patrulhas de exército. A minha admiração por Vena aumentou naquelas jornadas. Sofri duplamente porque descobri que a amava sem ter tomado consciência desse sentimento. Não creio que ela tenha percebido o que significava para mim. E eu não podia revelar-lhe a complexidade e a força da revolução interior que o nosso reencontro desencadeara. Já do outro lado da fronteira, em solo argentino, entregues a camaradas que nos conduziriam a Neuquen, a despedia foi breve. Ela ia regressar com o guia. Perguntei-lhe se tinha uma fotografia sua porque gostaria de ater comigo.“Como podes imaginar uma cosa dessas? – Respondeu. Não guardo fotos de ninguém, muito menos minhas.”“No último abraço, eu quis saber se ela pensava sair do Chile mais tarde, para lutar na Emigração com outros exilados. ““Não. O meu lugar é aqui.”Em Buenos Aires, primeiro, em Havana muitas vezes, quando encontrava camaradas chilenos, trazia o nome de Vena à conversa. Mas nunca mais tive notícias dela”O meu avião partiu antes daquele em que Perez viajava.Ao despedir-me, ele encerrou o nosso encontro com um comentário:“O homem novo será por muito tempo a excepção num mundo de homens velhos. Eu tive o privilégio de conhecer uma mulher nova. Se não amataram, Vema terá hoje 41 anos, E continuará a ser, estou absolutamente seguro, uma mulher maravilhosa, perfeita.”pag. 63 q 70Miguel Urbano Rodrigues em “A Metamorfose de Efigénia”



A DIVIDA À SEGURANÇA SOCIAL ATINGIU EM 2017 11,219 MILHÕES €

A DIVIDA À SEGURANÇA SOCIAL CONTINUA A AUMENTAR ATINGINDO, EM 2017, 11.219 MILHÕES € , E O ATUAL GOVERNO TEM PERDOADO ÀS EMPRESAS EM MÉDIA POR ANO 1.165 MILHÕES € DE DIVIDA ATRAVÉS DA CONSTITUIÇÃO DE PROVISÕES Um dos problemas mais graves que enfrenta a Segurança Social é precisamente a enorme divida acumulada, nomeadamente das empresas que não pagam o que devem à Segurança Social (uma parte importante deste divida são descontos feitos nos salários dos trabalhadores) que os sucessivos governos têm permitido, pois não tomam eficazes para o impedir, mesmo com o atual governo e com crescimento económico a divida tem crescido Esta enorme divida à Segurança Social afeta a sustentabilidade da Segurança Social, por um lado, e, por outro lado, limita os aumentos das pensões, contribuindo para as pensões de miséria que a maioria dos pensionistas continuam a receber. Apesar de sucessivos alertas, esta questão vital para milhões de portugueses tem passado à margem da Assembleia da Republica, pois nunca se assistiu a um debate objetivo, profundo e sério desta matéria, nem das medidas que é urgente tomar para por cobro ou, pelo menos, reduzir a dimensão deste grave problema nacional. A ENORME DIVIDA À SEGURANÇA SOCIAL QUE NÃO PÁRA DE CRESCER: um instrumento também de financiamento das empresas à custa dos descontos aos trabalhadores Para que o leitor possa apreender rapidamente a dimensão e a gravidade deste problema, que tem passado à margem dos deputados e do governo, e de toda a comunicação social, construímos um quadro com os dados dos Balanços da Segurança Social que constam dos Relatórios que todos os anos acompanham o Orçamento do Estado (o do OE-2019, inclui o Balanço de 2017, que é o ultimo disponibilizado pelo governo, por isso os dados do quadro vão até 2017).

Quando um patrão não paga à Segurança Social está a fazer um triplo roubo: Desconta do trabalhador os 11,5% e não entrega à segurança social, logo rouba ao trabalhador; Os restantes que são da responsabilidade da empresa foram criados pela mais valia de quem trabalha, logo um segundo rouba ao trabalhador; como não entrega o dinheiro à segurança social está a roubar o bolo todo que foi gerado por quem trabalha e está a roubar os que trabalharam e estão neste momento na reforma.Gente desta devia estar presa.



23 de março de 2018

«Operação Rússia»

retirada do google

Os maiores e mais escandalosos cambalachos da História



«Quanto mais vasta e mais acanalhada é  a fraude, mais forte é a necessidade de encobri-la com nobres justificações e com regulamentações feitas por medida para «legalizá-la». Nem umas nem outras faltaram na execução dessa extorsão organizada da fabulosa herança da URSS.
Como se dizia que todo o mal provinha, fundamentalmente, do próprio socialismo e que o único sistema capaz de funcionar, «civilizado», «civilizado», «democrático» e adequado às normas da «modernidade» era o capitalismo, havia que limpar o terreno a este último, isto é: destruir a propriedade socialista juntamente com o Estado Soviético. Isso seria feito procedendo, do modo mais amplo e mais rápido possível, à privatização de todos os bens pertencentes ao Estado e às organizações colectivas. Uma vez  concluída  essa tarefa, o país estaria perante um facto consumado e ficaria definitivamente barrado o caminho a eventuais  tentativas de regresso à «utopia comunista».
Foi a essa obra de demolição que se dedicaram os novos dirigentes ao som dos aplausos do «mundo livre» e com a sua ajuda activa…
Para dezenas de milhões de Russos, o nome de Igor Gaidar, promovido a primeiro ministro de Iéltsin em Junho de 1992, continuará durante muito tempo a simbolizar a famosa «terapia de choque» por ele preconizada e, para maior infelicidade de todos eles, por ele também posta em prática. Com o auxílio de alguns outros «economistas de talento», todos fervorosos partidários da economia liberal – como, por exemplo, Grigóri Iavlínski, candidato à Presidência em Junho de 1996 -, Igor Gaidar foi o grande organizador da privatização em massa iniciada no Outono de 1992 e que envolveu 115 mil empresas.
Todos ganhariam com essa formidável transformação – afirmava ele-, visto que cada um teria a sua parte no bolo, que lhe seria entregue na forma de um  «titulo de privatização», voucher. Passar para a língua russa, esta palavra, de origem Inglesa, sseduzio os ouvidos do povo. As pessoas, sem qualquer experiência no âmbito das finanças, prestaram-se a admitir que o negócio era promissor e digno de confiança, pois fora inventado no ocidente….
…Entre Outubro de 1992 e o início de 1993, 144 milhões de ex-Soviéticos foram comtemplados com esses títulos, no valor nominal de 10 mil rublos cada um. Várias opções se ofereciam, depois, ao que os recebiam: podiam revendê-los, podiam trocá-los por acções emitidas pela empresa em que trabalhavam e podiam, ainda , utilizá-los na compra de acções de outras sociedades. E tinham, também , a possibilidade de aplica-los  em fundos de investimento recentemente criados.
Bem depressa, porém, uma considerável parte desses vouchers se concentrou nas mãos de indivíduos, ou de grupos, que possuíam os meios líquidos bastantes para adquiri-los. Em Maio – Junho de 1994, todos os dias eram trocados até 500 mil desses papéis. Em toda a parte os negociavam: nos mercados públicos, em plena rua e até no metropolitano. A febre, contudo, baixou rapidamente. Havia pessoas pouco inclinadas a aventurar-se em especulações cujos mecanismos elementares ignoravam. Consideravam – e com bons motivos, de resto – muito hipotético o lucro que daí  poderiam retirar e preferiam desfazer-se dos seus vouchers o mais depressa possível, mesmo por quantias irrisórias ( em certos casos, o equivalente a algumas garrafas de vodka), em vez de trocá-los por acções cujo valor lhes parecia igualmente incerto….
…No final da operação, o valor do capital que , em finais de 1995, cada um dos novos accionistas possuía não excedia, em média, 5 dólares, o equivalente a oito percursos de ida e volta no metropolitano de Moscovo…. Muitos deles compreenderam que os títulos que lhes haviam sido entregues e que ainda conservavam eram pura moeda falsa.“ Pag. 36
“Livro O Grande Salto Atrás de Henri Alleg
  A táctica do capitalismo repete-se. Por cá passou-se o mesmo no pós 25 de Abril, na altura em que o PS começou a entregar empresas aos capitalistas. Muito trabalhadores, iludidos, aceitaram e compraram acções das empresas onde trabalhavam e de outras mas que mais tarde verificaram que essas acções nada valiam.
Há até alguns casos, que tive conhecimento, em que os sindicatos, pelo facto de as empresas deverem salários aos trabalhadores, propunham que essa dívidas fossem transformadas em acções. A empresa livrava-se de uma divida aos trabalhadores, os trabalhadores ficavam sem os salários e sem qualquer reembolso proveniente de acções de empresas falidas e nesses trabalhadores era incutida uma mentalidade de posse duma empresa não lhes garantia nada.




22 de março de 2018

A dissolução do PCUS Novembro de 1991


“Os militares adeptos de Iéltsin apresentaram-se no Comité Central de deram-nos dez minutos para evacuar o edifício, proibiram-nos de levar connosco o que quer que fosse – a não ser objectos de puro uso pessoal. Eramos cerca de dois mil. Toda a gente saiu sem dizer uma palavra. Estávamos desmoralizados, terrificados. Não houve um só que protestasse. Quando cheguei a casa e contei à minha mulher o que acontecera, ela ficou embasbacada e ao mesmo tempo, indignada: “ Quê? Estavam lá dois mil comunistas e não resistiram?”. Esta observação deixou-me envergonhado.
«Tinha razão. Sim, por que motivo não tínhamos nós resistido? Esperávamos ordens! Ordens de Gorbatchov, que continuava a ser o Presidente da URSS e secretário-geral do PCUS, que podia ter reagido, que podia ter apelado aos militantes para resistirem à decisão de Iéltsni. Não sei quantos membros do Partido teriam respondido a esse apelo, nem como, pois tudo nos parecia já perdido e estávamos completamente desmoralizados. Mas o facto é que nada fizemos. Esperávamos pela decisão de Gorbacthov quando, na realidade, fora ele próprio, com as suas hesitações, os seus compromissos e, por fim, as suas sucessivas traições, quem preparara a capitulação e se aprestava a assiná-la. Que ingenuidade! Mas que havíamos de fazer? Estávamos habituados a não tomar a iniciativa.» Pág. 81
«Mas, mesmo discordando profundamente da política que estava a ser posta em prática, toda a gente se calou. Não por medo de passar por «inimigo do Partido» e de ficar sujeito a sanções mais ou menos graves – esse receio havia-se atenuado pouco a pouco, especialmente depois do XX Congresso -, mas porque, qualquer que fosse a sua opinião, os militantes tinham conservado o hábito de aceitar sem discussão todas as directivas vindas de cima.»
« Os simples cidadãos – comunistas ou não - , quando se referiam aos que ocupavam os lugares de direcção à frente do Partido e do Estado, haviam ganho o hábito de dizer «eles», como se falassem de uma categoria  de pessoas à parte, situadas a grande distância da população, lá no «alto», nas quais se tinha fraquíssima influência. Para que serviria, então, exprimir desacordo em voz alta? Apenas para passar – o que não convinha – por indisciplinado? Pag. 203
“Livro O Grande Salto Atrás de Henri Alleg




Solidariedade/Fraternidade


“A «nostalgia» de Tânia…terminara a sua carreira de professora primária e vivia com as dificuldades de todos os reformados, mas o que mais a preocupava não eram esses problemas nem as comparações que, nesse domínio, poderia fazer com a sua antiga vida. Ainda adolescente, vivera em Leninegrado durante o cerco da cidade: as pessoas caíam na rua, mortes de fome, de frio ou esgotamento, mas os outros continuavam a lutar»
«Vinham-lhe as lágrimas aos olhos ao recordar a solidariedade e a fraternidade desses tempos: As pessoas privavam-se do último naco de pão para dar a alguém que dele necessitasse mais: a uma criança doente, a um soldado ferido. E, quando lho davam, sabiam muito bem que alguém da sua família podia estar também, em qualquer sítio da União Soviética, com fome, ferido ou doente, mas receberia da mesma maneira iguais dádivas de solidariedade e de efecto de compatriotas desconhecidos. Uma fraternidade que se estendia também a todos os seres humanos e a todos os povos que em qualquer canto do mundo nos pedissem ajuda. Orgulhávamo-nos de ter podido ajudar Cuba, o Vietname, Angola, a Argélia, o Egipto e todos os que combatiam pela liberdade. E agora tudo isso está perdido. Já não podemos fazer nada pelos outros povos. Estamos incapazes de ajudar-nos a nós próprios!»
"do livro O Grande Salto Atrás, de Henri Allg, pág, 82"

Este relato da Tânia faz com que meus olhos humedeçam ao recordar os tempos idos da Reforma Agrária, em Portugal, e a fraternidade e solidariedade que muitos de nós, “sacrificando” o lazer, os fins-de-semana, o bem-estar pessoal, dedicamos apaixonadamente muitas horas de trabalho concreto, sem recebermos nada mais que o carinho e estima dos trabalhadores Alentejanos.
Faz-me lembrar os tempos em que muitos camaradas abriam as suas portas, colocavam mais um lugar na mesa, disponibilizavam um sofá ou uma cama extra, lá naquele quarto destinado a um filho vindouro mas que de momento era de grande utilidade para um descanso merecido.
Foram tempos de solidariedade e fraternidade entre homens e mulheres que lutavam por uma nova sociedade livre da exploração e onde todos os seres humanos se reconhecem como fazendo parte do mesmo ideal. Sem cansaços, sem vacilações todos davam o seu contributo, voluntário, nas variadas tarefas que se nos colocavam diariamente.
Pela manhã o bilhete em cima da mesa da cozinha dizia – amigo: tens o pequeno-almoço na mesa, quando saíres puxa a porta, abraço! -