Além!

Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.

31 de dezembro de 2010

Há duas maneiras de matar

(De passagem pelo Blog do Cid Simoes)
«Há duas maneiras de matar: uma que se designa abertamente com overbo matar; outra, aquela que fica subentendida habitualmente sobeste eufemismo delicado: “tornar a vida impossível”. É a modalidade deassassinato lento e obscuro, que requer uma multidão de cúmplicesinvisíveis. É um auto-de-fé sem chamas, perpetrado por uma inquisiçãodifusa.»
Eugène D’Ors, La vie de Goya
Um outro ano será de certeza, mas porque trará por arrasto os vícios e malefícios do anoque se diz findar; novo, novo de certo não será.

O dito “Ano Novo” transportará no seu bojo tudo o que herdar de bom ou mau quando ànascença o seu progenitor se finar.

E não poderia ser de outro modo. Como é que na sequência deste ano caquéctico, repletode pústulas, poderá surgir um outro escorreito, saudável, no seio do qual nos dê gosto ouseja desejável viver?

Em crescendo, às dezenas de milhar, os que sobrevivem da força de trabalho expressam narua angústia e revolta; estranho seria que assim que mudasse o calendário, saltitantes – anonovo vida nova – esquecendo os atentados de que foram vítimas durante o ano quesuportaram, rasgassem a última página do calendário sorridentes, felizes.

Vive-se o desconforto das manhãs húmidas e de viscosidade que se nos cola à pele e nessemal-estar paira um resmungar colectivo que convida ao conflito.

O descontentamento é tecido com agulhas de sofrimento, processo lento e, no entanto,seguro que atravessa horizontalmente dias, meses, anos, sem ter em conta o almanaque.

O novo ano anuncia-se, abrem-se as janelas para o ver chegar, mas perde-se o jeito de osaudar; não surge triunfal como se poderia esperar, antes sonso, desajeitado, sem o rostoda esperança ou o porte viril que nos transmitiria a confiança destroçada.

A noite está escura e o som dos camiões do lixo não são bom presságio. Ao longe ouvem-se os morteiros e a alegria manifesta-se fugaz no colorido e na luz do fogo-de-vista. Volta aescuridão sem artifícios, é a realidade que se impõe, o negrume da tristeza que acompanha a insegurança.

Adivinha-se a madrugada impenetrável. O novo dia chega-nos denso, incerto. Vultosdisformes deslizam fugazes, hesitantes no caminhar sem sentido nem destino.

O nevoeiro que se apodera de nós invade a noite. É o primeiro dia do novo ano que se anuncia.

Já se ouvem os clamores!

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