Vídeo da sua fuga de Peniche, contado na primeira pessoa:
Fuga de Peniche : O Segredo
Biografia:
António Dias Lourenço, que hoje, sábado, morreu aos 95 anos, nasceu em Vila Franca de Xira em 1915, foi torneiro mecânico de profissão e aderiu ao Partido Comunista Português em 1932, com 17 anos de idade.
No início dos anos 40, assumiu papel importante na organização dos "Passeios no Tejo", encontros que pretendiam estreitar laços entre intelectuais e operários e impulsionar a luta antifascista.
Foi eleito para o Comité Central do PCP em 1943 e só de lá saiu em 1996 "para dar lugar a outros camaradas mais novos".
António Dias Lourenço foi deputado entre 1975 e 1987, tendo feito parte da Assembleia Constituinte.
Deixou publicadas obras como "Vila Franca de Xira: um concelho no país", "Alentejo: legenda e esperança" e "Saudades... não têm conto! - Cartas da prisão para o meu filho Tónio".
Viveu 17 anos na clandestinidade e esteve preso outros tantos, dirigiu o jornal Avante durante igual período e dizia que 17 era o seu número da sorte e do azar.
Dias Lourenço não negava a ligação ao partido, mas não havia ameaça ou tortura que o fizesse abrir a boca.
"Sou membro do Comité Central do PCP, mas recuso-me a dizer seja o que for", declarou, quando foi preso pela primeira vez, em 1949, antes de ser espancado a cassetete com a preocupação de manter uma expressão que não fosse de dor, como conta no documentário "O Segredo", de Edgar Feldman.
Na fuga de Peniche, quando viu que o grupo de pescadores com quem seguia queria entregá-lo à polícia, abriu o jogo: "Sou membro do PCP, acabei de fugir do Forte, vocês têm de me ajudar". Eles ajudaram.
Em 1960, é Dias Lourenço quem organiza a fuga de Álvaro Cunhal e de mais dez membros do PCP, num
"trabalho meticuloso e sigiloso que durou muitos meses", como o próprio recordou numa entrevista dada em 2004 ao jornal Setúbal em Rede.
"trabalho meticuloso e sigiloso que durou muitos meses", como o próprio recordou numa entrevista dada em 2004 ao jornal Setúbal em Rede.
Entre 1962 e Abril de 1974, haveria de voltar à prisão onde "não podia inventar nada, porque nem papel tinha para escrever".
Mas Dias Lourenço "ia pensando em tudo, fazendo versos, cantando cá para mim", como recorda numa das muitas vezes que voltou a Peniche para recordar passo a passo a audaciosa fuga de 1954.
"Engendrou tudo sozinho, estudou as marés, avisou que ia partir, destruiu a vedação de uma cela solitária, atirou-se ao mar em pleno Dezembro - quando a polícia chegou ao local, constatou que é preciso gostar muito da liberdade para fugir daquela maneira".
O relato do comentário das autoridades no Forte de Peniche, quando o preso político António Dias Lourenço já se tinha evadido, é feito por outro membro do PCP, Domingos Abrantes, que, num vídeo do Youtube, o descreve como "um camarada possante do ponto de vista da resistência".
De tal forma que sobre Dias Lourenço dizia-se, "a brincar, que o pai, quando ele nasceu, pô-lo em cima do telhado para o enrijar". Publicado no JN.
Cavaco Silva tinha acabado de ganhar as eleições com maioria absoluta. Nessa noite os seus apoiantes dirigiram-se para a Alameda(Fonte Luminosa), onde fizeram uma manifestação impressionante. Eram de facto umas centenas de milhars de pessoas, que extravasavam a vitória com uma barulheira infernal.
ResponderEliminarComo nessa noite o meu turno iniciava à meia-noite, decidi ver como estavam os ânimos por aqueles lados, ainda que os meus estivessem pelas ruas da amargura.Como figura anónima, passaria despercebido.
Quando estava a chegar à esquina da pastelaria "Pão de Açúcar", vejo um carro a atravessar aquela multidão, e pensei comigo: este tonto escolheu uma boa hora para se meter aqui de carro. Quando passa ao meu lado, fiquei mais pálido ainda...lá dentro seguia, sózinho, António Dias Lourenço.
Acompanhei-o à distância, pois fiquei com receio que fosse reconhecido por alguém daquela turbamulta, e seria aquele carnaval...cortou para a Guerra Junqueiro, onde tive a oportunidade de me aproximar e interpelá-lo: que fazes aqui, sózinho??? - Ah, queria ver como é que isto está...
Assim, simplesmente.
A luta continua, Camarada.