O que me pareceu muito curioso foi que por mais de uma vez a comunicação social a que acedi se tenha mostrado especialmente sensível à camisa que Fidel envergara pelo menos numa das suas últimas saídas. Mais precisamente, à cor da camisa: era verde. Parece que aquelas camisas, verdes talvez da cor da vegetação de onde saiu um dia a revolução libertadora, implicam uma sugestão de combate que aparentemente impressiona alguns, porventura por terem consciência de haver bons motivos para que sejam combatidos.
De qualquer modo, a verdade é que Fidel não vinha armado, não trazia um revólver à cintura, muito menos uma metralhadora nas mãos octogenárias. Trazia apenas uma camisa. Verde. E o seu olhar: olhar de um homem que viu o seu país libertado quando todo o mundo ainda o via irremediavelmente entregue à exploração brutal sobre ele exercida pelo grande império da região, isto é, o olhar de um homem que vê mais longe. E pareceu-me, com razão ou sem ela, que a combinação daquela camisa, verde, e daquele olhar, resoluto e lúcido, suscitou um frémito de apreensão pelos quatro cantos do mundo. (...)
...pois agora, quando as coisas iam tão bem, aparece aquele homem em público. Vivo, manifestamente vivo, contrariando todos quantos durante anos e anos lhe vêm desejando a morte. E com uma camisa verde. Verde de combate, Verde de resistência. Verde de dizer ao mundo que Cuba está ali, e prossegue, e continua a ser credora de uma solidariedade que heróica e longamente mereceu. Verde de dizer «Si!».
Artigo aqui adaptado.
Do original de Correia da Fonseca no Avante! Consulte aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário