O Diário de Notícias prossegue empenhadamente o cumprimento da sua tarefa de sentinela vigilante da ordem.
Perdão: da Ordem.
(há-de ser feitio que lhe ficou do antigamente, quando funcionava como órgão oficioso da Ordem de Salazar e Caetano... isto digo eu...)
Ontem foi o que se viu e aqui se resumiu.
Hoje é o que se vê e aqui se resume:
na primeira página, destaque:
«Mário Mendes "Temos planos de contingência para a perturbação social"».
Assim como quem diz aos leitores: estejam tranquilos, as forças da Ordem zelam por vós, está assegurada a paz nos espíritos e nas ruas...
Segue-se uma entrevista de quatro páginas a «Mário Mendes, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna» - em que o entrevistado produz declarações várias, mas das quais o DN achou por bem destacar em título, para além da citação acima referida, esta outra:
(Mário Mendes) «prevê um aumento de perturbações sociais, na sequência da crise económica, mas garante que há planos de contingência a ser preparados pelas forças de segurança».
Assim como quem diz aos leitores: estão a ver, está tudo previsto, portanto fiquem em casa, tranquilos, senão...;vejam televisão e deixem-se de protestos e de reivindicações, senão...; sentem-se, senão «as polícias estão preparadas para enfrentar possíveis alterações de ordem pública como aquelas que já aconteceram»...; portem-se bem, não se metam em política e digam todos, em coro:a minha política é o trabalho, eu quero é ganhar o meu, ricos e pobres sempre houve e há-de haver, vale mais ganhar poucochinho do que não ganhar nada, o que seria de nós sem os patrões, que Deus e o Papa os ajudem... senão...;lembrem-se que a Ordem é isso: todos em casa, sentados, quietos e calados, senão...
Por isso, insisto: a intensificação e alargamento da luta das massas trabalhadoras - pela justiça social e pelos direitos consagrados na Lei Fundamental do País - é a condição essencial para pôr termo à desordem social, política e económica provocada pela política de direita e para assegurar a democracia e a liberdade.
Por isso, insisto: vamos fazer do dia 29 uma poderosa jornada de luta. Senão...
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