corte-se no desemprego e obrigue-se os desempregados a trabalhar por ainda menos salário
Por razões que a razão desconhece o chamado Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) chegou primeiro a Bruxelas do que à Assembleia da República, em S. Bento, Lisboa. Dirão as más línguas que o Governo pretendeu garantir primeiro o aval das instituições europeias para poder esgrimir de seguida a «excelência» da obra, mas não deixa de ser caricato que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, classifique o PEC de «credível», ou que o ministro das Finanças do Luxemburgo e presidente do eurogrupo, Jean-Claude Juncker, elogie as «medidas corajosas» do dito, enquanto em Portugal se gorava uma reunião com as confederações patronais e sindicais porque não havia uma versão final do documento (aprovado no sábado em conselho de ministro extraordinário) e o presidente da AR fazia paciências à espera do carteiro (é uma maneira de dizer).
É claro que nada disto é inocente. Se o ditado ensina que «enquanto o pau vai e vem folgam as costas», no caso vertente o que tudo indica é que ao Governo interessa sobremaneira esta divulgação do PEC às mijinhas, perdoe-se a expressão, para apalpar terreno e tomar o pulso às reacções.
Não foi certamente por acaso que esta segunda-feira ficou marcada por múltiplas declarações de governantes, amplamente reproduzidas nos noticiários da noite e fazendo manchetes de jornais no dia seguinte, defendendo medidas preconizadas no documento a que ainda poucos tinham tido acesso. É o caso, por exemplo, de Teixeira dos Santos e Helena André, que assestaram as suas baterias na tentativa de convencer os portugueses de que os anunciados «ajustes» nas regras do subsídio de desemprego se destinam a «incentivar» o regresso à vida activa. Se um alienígena os tivesse ouvido era capaz de ter ficado a pensar que estar desempregado é uma opção e que nessa condição se auferem chorudos proventos. Coube ao ministro das Finanças admitir que o subsídio de desemprego pode diminuir, enquanto para a ministra do Trabalho ficou a incumbência de apontar o «paradoxo» de haver postos de trabalho que não são preenchidos numa altura em que o desemprego é tão elevado. Moral da história? Vão trabalhar malandros, o que eles querem é receber sem fazer nada, etc., etc., etc., como os patrões não se cansam de dizer e muitos papagaios tontos repetem. A «solução» encontrada pelo Governo para tamanho «paradoxo» é velha como a história da exploração: corte-se no desemprego e obrigue-se os desempregados a trabalhar por ainda menos salário. O Estado poupa uns cobres arrecadados com os descontos de quem vendeu e vende a força de trabalho (que podem vir a fazer falta para os gestores, banqueiros e outros que tais...) e os patrões agradecem os assalariados a preço de saldo. De caminho, a medida serve de aviso à navegação: cuidadinho com as reivindicações que há aqui muita mão-de-obra barata para satisfazer as necessidades.
Mas para que se não diga que o Governo (do PS, é bom lembrar) não falou de flores, eis que o ministro da Economia, Vieira da Silva, veio a terreiro anunciar um novo plano no sector da energia que irá produzir nada mais nada menos do que 130 000 watts, perdão, postos de trabalho, certamente para juntar aos outros (os tais) 150 000 prometidos faz tempo, melhor dizendo, antes de chegarmos a mais de 10,5 por cento de desemprego oficial. Paradoxo? É mesmo um desconchavo.
original aqui
PEC: Plano de Engorda do Capital
ResponderEliminarAí está, com toda a violência, o garrote com que o PS se prepara para, uma vez mais e com mais violência, repito, espremer a população em geral e as classes trabalhadoras em particular, de forma a criarem, rápidamente e em força, as mais valias necessárias a uma maior acumulação da riqueza dos grandes grupos económicos, nem que para isso tenham que condenar à pré escravidão todos aqueles que precisam de um salário para viver.~
É a própria Constituição Portuguesa, ao garantir o trabalho com direitos, até a Declarção Universal dos Direitos Humanos que garante o direito ao trabalho e à dignidade que são espesinhados por esta corja que nos caiu em sorte, e cujo destino, numa Democracia séria, seria a barra de um tribunal ao serviço do povo, que os remeteria aos calabouços mais infectos, onde vegetam outros por muito menos do que esta traição aos ideais que dizem ser socialista.
Este é o momento em que ninguém pode ficar indiferente ao que se passa, todos têem que fazer uso do seu direito à indignação e ao protesto, tirar os últimos fôlegos das entranhas para rebentar as grilhetas do medo e vir para a rua reinvidicar uma outra política, mais justa, solidária, que nos devolva a dignidade perdida.