Não posso deixar de reflectir nos resultados de séculos de poder quase absoluto do dinheiro sobre a vida das pessoas e da formatação das suas mentalidades.
No caso português, por exemplo, quarenta e oito anos de fascismo, seguidos de mais de trinta anos de governos de alguns falsos socialistas e sociais-democratas empenhados em atacar, destruir e fechar quase todas a portas que Abril abriu, resultam na situação de lamaçal político, social e ético em que vivemos.
Produziu um exército de falsos “enganados”, que vão votando sempre nos mesmos, ou que já nem votam sequer, pois habituaram-se ao “eu quero é o meu”, ao “eles são todos iguais”, ao “a minha política é o trabalho”, sendo que, se de algum benefício gozam, é sempre às custas das lutas travadas pelos outros... quase sempre companheiros de trabalho que desrespeitam diariamente, quando não desprezam mesmo.
Produz patéticas manifestações, como a deste fim de semana, juntando protestantes, evangélicos, católicos, militantes de extrema direita e outros que ainda sabiam menos do que estes porque é que ali estavam, todos muito preocupados com a “vida”, a “família” e “deus” (presumo que também com a “pátria), enquanto iam deixando escapar uma ou outra tirada mais carregada de ódio. Este tipo de manifestações, supostamente “movidas a religião”, têm pelo menos um aspecto positivo que é lembrarem-me o quanto esteve certo o miúdo de 14 anos que eu era, ao bater ruidosamente com a porta de uma destas “congregações”... para nunca mais.
De qualquer maneira, a semente de fascismo que mais me impressionou por estes dias, foi a que se instalou e germinou no cérebro de uma quase ex-operária da Delphi da Guarda. Falando para a televisão, à porta da empresa, praticamente certa de figurar na lista de centenas de trabalhadores que vão ser despedidos, produziu, mais palavra menos palavra, esta frase absolutamente obscena:
«Isto aqui já está de rastos. Já não há serviço para fazer. Eles levam tudo para os países onde a mão de obra é mais barata... mas temos que compreender... eu se fosse patroa também fazia o mesmo!»
Desanimar? Não… mas magoa!
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