Manobrado pelo PS, ansiado pelo PSD, sentido como afirmação de poder para o PR, esperançoso para o sempiterno disponível CDS, conveniente nas contas do alto patronato – o novo bloco central aí está.
Uma articulada campanha de marketing preparou-o, mastigando até à náusea um longo rosário de frases feitas:
- «A crise atinge-nos a todos e todos temos de fazer um esforço para a superar<» - afirmam os senhores do alto Capital.
- «A solução única para saída da crise é todas as forças seguirem essa solução - diz Cavaco Silva numa tradicional declaração de Presidente da República.
- «Salvar o sistema financeiro é a primeira das prioridades» - proclamou desde início o Governo.
- «Os trabalhadores têm de aceitar trabalhar mais com menor salário e menos direitos, ou ficam sem emprego» - sentenciam sisudos economistas de cartola.
- «Estamos a gastar acima das nossas possibilidades» - asseguram outros atirando a responsabilidade para o povo.
- Também alguns, proclamando-se arautos do «regresso a Marx»deixam no cesto dos papéis a teoria da mais-valia e a luta de classes para proporem o regresso a um keynesianismo mitigado.
Com o ruir do dogma do «mercado que se auto-regula» é caso para perguntar: onde estão agora os gurus do neoliberalismo? Que antes da crise falavam da «boa saúde» dos mercados?
Outras perguntas podem também ser formuladas:
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«Todos temos de lutar contra a crise»: mas os interesses, objectivos e soluções do patronato, do Governo e dos trabalhadores são os mesmos?
«É preciso salvar o capitalismo»: mas salvá-lo de quê? não são as crises inerentes ao sistema? Não estamos vendo como a crise é pretexto para um brutal ataque aos trabalhadores, para cortar nas funções sociais do Estado, diminuir salários, pensões e reformas?
Esta política de bloco central passa em claro uma questão fundamental: convergência, união de esforços - em nome de quê, em defesa de quais interesses? Os da minoria que o governo protege ou os da imensa maioria por eles espoliada?
De facto, a «convergência» pedida visa apenas garantir a continuação da mesma política. Mesmo quando faz inócuas concessões que não respondem ao amplo e profundo descontentamento e sofrimento popular, tratando os direitos sociais não pelo seu perfil jurídico de pleno direito, mas como «carências» que é preciso «ajudar» - concedendo-lhes alguns auxílios «possíveis».
Este bloco central é uma solução antidemocrática que parte da falácia de que há partidos com «vocação de poder».
Na sua crispação para não perder o lugar estes partidos, que são reféns do grande poder económico, adquirem uma natureza parasitária do poder político, incapaz de elaborar e rasgar novos rumos, para enfrentar os desafios necessários ao País, de encarar o futuro com a coragem cada vez mais exigente que as dificuldades impõem.
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