A Formiga e o Leão
O leão montou uma pequena oficina onde trabalhava ele e a Leoa (sua esposa).
Como tinham muito trabalho decidiram contratar a Formiga como assalariada.
O trabalho aumentou e contrataram mais 3 Formigas.
A Leoa deixou de trabalhar e dedicou-se às filhas; ia levá-las e buscá-las à escola, ia às compras e passava horas nos cafés conversando com as amigas.
O Leão continuou na empresa mas fazia pouco… tratava dos orçamentos, das compras e das vendas, ia aos bancos.
As formigas trabalhavam, trabalhavam e eram remuneradas razoavelmente. Obtinham da venda da sua força de trabalho o seu sustento e da sua família.
Em três horas produziam o suficiente para que o Leão lhes pagasse os salários e todos os encargos; seguros, segurança social e demais impostos.
As restantes seis horas eram lucro absoluto para o Leão.
As encomendas cresciam e o Leão contratou mais 6 Formigas. Procurando tirar dividendos das novas contratações, estabelecem um salário mais baixo do que as que lá trabalhavam há mais tempo.
O Leão contratou a aranha para empregada de escritório; tratava dos papeis, ia aos bancos, fazia recebimentos e pagamentos e controlava o tempo das Formigas.
O Leão deixou de trabalhar. Passava pelo escritório por volta das 10 horas, fazia a ronda pela empresa e saía para almoçar regressando pelas 5 horas da tarde.
Comprou um Mercedes para ele e outro para a Leoa. Comprou também 1 jipe para cada uma das filhas que, entretanto tinham ingressado na Universidade.
As Formigas continuavam a trabalhar e a produzir a bom ritmo.
Se produziam tanto sem supervisão, melhor produziriam se fossem supervisionadas – pensou o Leão.
Então contratou a Barata que tinha muita experiência nesta área e fazia belíssimos relatórios.
A primeira preocupação da Barata foi estabelecer um horário rígido de entrada e saída das Formigas.
Tinham de estar no local de trabalho 5 minutos antes das 8 horas e a que se atrasasse era-lhe descontada 1 hora.
A saída ficou estabelecida para as 18 horas desde que não fosse necessário fazer horas extras , que eram pagas como normais.
A Barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma mosca que, além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.
O Leão ficou encantado com os relatórios da Barata e pediu gráficos e índices de produção, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.
O Leão só aparecia na empresa para assistir às reuniões e nem sempre ficava até ao fim.
As Formigas, exaustas de tanto trabalho, ainda tinham que preencher a papelada pedida pela Barata. Começaram a protestar e, o Leão concluiu que era altura de criar a função de gestor da fabricação. O cargo foi dado a uma Cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.
A nova gestora, a Cigarra, precisou ainda de um computador novo , uma impressora e de uma assistente(que trouxe do seu anterior emprego) para ajudar na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho das Formigas e no controlo de do orçamento para a área da produção.
Perante os relatórios, orçamentos e contabilidades, o Leão deu-se conta que tinha despesas a mais e que as Formigas já não rendiam como antes ou seja a produtividade da empresa foi reduzida consideralvelmente.
Contratou a Coruja, uma prestigiada consultora, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse as soluções.
A Coruja permaneceu 3 meses nos escritórios e fez um extenso relatório, em vários volumes, que concluíram: “ há muita gente nesta empresa”.
Então o Leão começou por despedir as 4 formigas mais antigas e mais experientes e também as que ganhavam mais.
As 4 juntaram-se e foram ao centro de emprego reclamar os respectivos subsídios. Verificaram que não tinham direito a qualquer apoio porque o Leão nunca as tinha posto como efectivas na empresa. Apesar de lhes retirar do salário a parte para os impostos, nunca tinha entregue esse dinheiro nos respectivos organismos.
As formigas tiveram de tirar os filhos das creches e dos tempos livres porque não tinham como pagar as respectivas mensalidades.
Partiram cada uma para seu lado à procura do seu sustento e das suas famílias.
O Leão, a Leoa e as filhas foram de férias para o estrangeiro deixando a empresa entregue aos directores da sua confiança.
Depois de um mês de ausência, o Leão veio com novas/velhas ideias: reuniu as restantes Formigas e deliberou que a partir daquele momento passavam a ter de trabalhar conforme a conveniência da empresa; Podiam começar às 7 horas da manhã, paravam às 13 e voltavam ao trabalho às 18 horas até fazerem as 9 horas diárias.
Reuniu também com os “gestores” e deu ordens para contratarem outras Formigas a empresas de trabalho temporário.
As filhas do Leão acabaram a Universidade, casaram e o Leão deu a cada um dos genros um lugar de gestão na empresa.
Comprou a cada uma um apartamento na praia como prenda de casamento.
Neste momento o Leão faz contactos para deslocar a empresa para um país de mão-de-obra mais barata e ficar apenas com um departamento, gerido pelos genros e pelos “gestores da sua confiança, para comercialização dos produtos confeccionados lá fora.
As restantes formigas foram despedidas sem qualquer indemnização.
Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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