Além!

Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.

16 de janeiro de 2010

Pela boca morre o peixe...




Ainda o ano é um menino e já o País mergulha num turbilhão de palavreado e confusão. Sem uma só excepção, os órgãos que detêm o poder dizem e desdizem-se com a desfaçatez de quem paira acima de todas as suspeitas. É ler-se as entrevistas dos banqueiros e dos bispos ou as mensagens da quadra de Natal. Os grandes senhores revelam ter perfeito conhecimento dos gravíssimos problemas que minam a vida dos pobres e dos trabalhadores. Sabem que o capitalismo do Estado, tal como o praticam, conduzirá a nação à bancarrota e os pobres à miséria. Bem percebem que a culpa de tudo isto é sua, dos banqueiros e dos bispos. Mas não dão sequer um passo atrás. Pelo contrário, procuram deitar poeira nos olhos do povo. Chovem as falsas promessa que nunca serão cumpridas. Alastram o desemprego, as desigualdades e a amoralidade entre os políticos. Uma situação que se desenvolve desde há anos e tem na sua base a cupidez e a ambição. Os políticos que agora ocupam a governação têm longa experiência política, enriquecem com este estado de coisas e instalam-se nesta situação caótica que eles próprios criaram e garante às mil maravilhas o crime sem castigo. O que os não impede de subirem ao púlpito e pregar a moral cristã e os bons costumes. Assim, estão sempre inocentes. A culpa de tudo o que acontece é dos outros, dos pequeninos. Daí a grande embrulhada em que o País se encontra, a grande confusão do entrelaçar das mentiras.

O jogo dos compadrios··A Igreja católicos cala e consente. Renuncia ao apostolado que anuncia
 e denuncia, como apostolicamente proclama. Vai mesmo muito mais além e intervém activamente nos grandes negócios que fomentam o lucro a qualquer preço. Tem duas faces: prega a Caridade e procura encobrir os escândalos das elites ricas. É uma «igreja tampão». As suas parcerias com o Governo de Sócrates e com a direita revela-se a cada passo.
O Patriarcado debate-se com o sério problema de conseguir travar o contínuo declínio da influência da Igreja junto das populações. Mas os bispos também compreendem que a inversão da queda pode ser conseguida através da criação de novos laços de dependência dos pobres em relação às instituições católicas.
Neste momento, diz o Governo, há em Portugal cerca de 2 milhões de pobres. Segundo as mesmas fontes, o desemprego atinge 600 000 trabalhadores dos quais apenas 260 000 recebem um subsídio equiparado ao salário mínimo nacional. As estatísticas admitem também que há 18 000 trabalhadores com salários em atraso. Sabe-se também que todos estes números ficam aquém da realidade e que a pobreza alastra galopantemente. E também é já evidente que a rede pública da Segurança Social é cada vez mais débil e inoperante.
Em sentido inverso, as instituições católicas caritativas reforçam-se com verbas do orçamento do Estado e vão ocupando as áreas sociais que o Governo generosamente lhes oferece. Prepara-se, no segredo dos deuses, uma rede de instituições público/privadas «não lucrativas» com quadros fornecidos pelo «voluntariado» católico, financiada pelo Estado e por multinacionais, pela área bancária do Vaticano e pelo Sector Solidário da Igreja, o qual dirigirá todas as operações. O seu campo de acção será constituído por todos os subsectores sociais até agora reservados ao Estado - do desemprego à saúde. O peso do Estado esfumar-se-á.
A reputação da Igreja avantajar-se-á aos olhos dos grupos sociais dependentes. O Estado laico servirá apenas para pagar as despesas da Caridade cristã.
Esta gigantesca operação de trespasse cria, inevitavelmente, dificuldades de gestão. Assim, cumpre à Igreja providenciar estruturas dirigentes intermédias que permitam coordenar as acções futuras. Essa missão caberá a um Conselho Nacional do Voluntariado, uma espécie de gabinete ministerial da Sociedade Civil. Do seu seio irradiará uma rede de formações assistenciais com implantação nas autarquias. Na sua fase inicial o projecto envolverá 400 misericórdias e 19 hospitais. O Estado compromete-se a pagar à sociedade civil uma primeira «fatia» de 424 milhões de euros.
Abrem-se as portas a um futuro Governo confessional. Assim vão as coisas no soçobrante mundo português.