Há momentos assim. Aqui «moídos» sobre que teor dar à crónica nestes períodos em que nada parece acontecer e, zás!, eis que o presidente da Associação Empresarial decide abrir a boca. Ficamos assim poupados a ter de comentar a fantasiosa realidade pintada pelo primeiro-ministro na sua mensagem de Natal, lamentar o rasto de prejuízos deixados pelo mau tempo ou ver regressar o síndroma terrorista a bordo de um qualquer avião norte-americano. Inspirado pela quadra, o responsável pela AEP decidiu verberar aquilo que designa por excesso de feriados. Segundo a personagem o país tem feriados a mais: a mais para o que a «crise» recomendaria, a mais que a vizinha Espanha, a mais quando comparado com a média europeia. Em matéria de estatísticas o homem é vesgo: onde vê feriados acima da média, não enxerga salário a menos. Historicamente falando, também não enxerga a razão para tanta desigualdade. Compare-se com o nosso vizinho mais próximo: o cinco de Outubro dispensado pela óbvia razão de que não tendo ali a monarquia virado República não fará sentido assinalar o que não se tem; o vinte cinco de Abril fora do calendário pela simples razão de todos conhecida; o primeiro de Dezembro pela singela razão de que quem foi derrotado não verá razões para comemorações. Um desperdício, pensará o personagem, olhando para esta última, já que o que saiu pela porta quase quatro séculos atrás vai entrando hoje pela janela em termos de dependência e subordinação económica com uma mãozinha dada por ele e outros com ele parecidos. Inspirado nestes tempos e políticas de exploração à custa dos quais se alimenta a engorda de lucros que os grandes grupos económicos ostentam, a ousadia e a gula não conhece limites: a fórmula para o seu sucesso resume-se a trabalhar mais, com menos salário, se possível sem direitos nem remuneração. Eis o capitalismo na sua expressiva essência nestes tempos que, ainda de festas, antecipam os de luta que já se anunciam. |
Além!
Porque o silêncio é às vezes o caminho mais dificil, é preciso encontrar avenidas de tambores a rufar entre tantas mordaças, para construir a sempre inacabada e desejada felicidade, de viver sempre a juventude presente. Tempo de desejo é sempre tempo de Futuro.